Um áudio que circula nas redes sociais tem causado polêmica em Itajubá. Uma idosa tenta mobilizar um grupo de pessoas a solicitar a retirada do educador Paulo Freire (1921-1997) do muro de homenageados da Universidade Federal de Itajubá (Unifei).
O educador é um dos onze homenageados em um painel que lembra pessoas que marcaram a história da ciência e da educação no Brasil. Além dele, são homenageadas personalidades como o barão Visconde de Mauá, a médica psiquiatra Nise da Silveira, o inventor Santos Dumont e o sanitarista Vital Brazil.
O painel foi criado pelos artistas plásticos Diego Dais e Letícia Floriano, em 2017, na gestão do ex-reitor Dagoberto Alves. Entretanto, um áudio veiculado nas redes sociais apresenta uma mobilização para convencer o reitor Edson Bortoni, bolsonarista, a retirar a homenagem ao educador.
"As paredes da EFEI (sic) foram pintadas por dois artistas. Então, ali tem pessoas que engrandeceram Itajubá (sic) e que engrandeceram a EFEI (sic). Tem desde Santos Dumont, sabe? E tem até o juiz, que foi aquele irmão da Giselda, aquele negro (sic), que trabalhou e foi funcionário da Unifei. Ele também está homenageado nas paredes", afirma a idosa, que já teria sido identificada.
Durante a fala, ela ataca o Patrono da Educação Brasileira. Freire foi o responsável por alfabetizar 300 cortadores de cana em apenas 45 dias com um método considerado inovador para a época. Entretanto, foi perseguido e preso pela Ditadura Militar, em 1964.
"Acontece que, lá nas paredes, colocaram o Paulo Freire. Paulo Freire é um grande vagabundo, um grande canalha, filho da (palavrão) da esquerda. Paulo Freire pode ser pintado na parede do quintal do [ex-presidente] Lula ou do [Guilherme] Boulos ou de qualquer um da esquerda bem fajuto, aquela Manuela D'ávila, aquele povo da esquerda", afirma.
No áudio, a idosa tenta mobilizar participantes do grupo de mensagens a acionar a reitoria pela retirada do educador. "O pessoal quer fazer um movimento com os ex-alunos para que tirem da parede o Paulo Freire e, no lugar, possam pintar por exemplo, a secretária Maria José Rezende, que foi secretária da Efei (sic) durante muito tempo e ser homenageada no lugar do Paulo Freire. Tirar esse esquerdista vagabundo", declara.
Porém, a escolha das personalidades do painel montado em 2017 não teve como objetivo homenagear ex-funcionários da Unifei. Os selecionados, em sua grande maioria, contribuíram de forma indireta ou direta para a ciência e educação do país. No mesmo grupo de mensagens, outros participantes reforçaram a vontade de pressionar o atual reitor a apagar a homenagem.
A mulher afirma que Luiz Gonzaga Rennó Salomão, conhecido como Zaga, engenheiro formado em 1967 pela então Escola Federal de Engenharia de Itajubá (EFEI), encabeçaria o movimento contra a figura do educador Paulo Freire.
"O Zaga falou para mim que o reitor da universidade é da direita, mas ele não pode fazer nada porque pode ter aluno lá, da esquerda, que vai retaliar e ficar bravo com o reitor. Mas, se for um movimento de ex-alunos, isso pode ser", garante.
Na prática, egressos de instituição não têm poder administrativo sobre universidades federais, ao contrário do que defendem grupos de ex-alunos da instituição. Porém, a Unifei sofre, há alguns anos, com constantes cobranças de grupos que tentam alterar decisões que cabem apenas à liderança da universidade.
Pessoas que são contra a decisão do grupo afirmaram que a Unifei será acionada contra qualquer intervenção considerada inapropriada por egressos que tentem pressionar o reitor para a retirada do educador do muro de homenageados.